quinta-feira, setembro 03, 2009

A noite de lua cheia

Na noite seguinte, iríamos pedir nossas contas. Queríamos receber nosso dinheiro dos dias trabalhados, somente. Não nos importava mais nada, só o que trabalhamos.
Éramos ilegais, não podíamos chegar exigindo algo que não seria nos dado. Trabalhamos até o final da semana, e não trabalharíamos mais.
Aquela seria a última noite downtown. E eu estava feliz porque, no dia seguinte, deixaríamos nossos tão queridos insetos pra trás. E dormiríamos num lugar limpo, com chuveiro quente e aquecedor.
Era domingo, eu não sabia mais o que era cansaço. A semana tinha sido de tanta correria e alguns percalços que eu só via a minha tão sonhada folga de alguns dias pra poder organizar, nosso novo apartamento e me preparar para os novos empregos que estavam por fim.
Quando lavei o último copo às quase quatro e meia da manhã, olhei pro Lex, tirei o avental e disse ‘fim’. Seria o fim, se aquele fim de noite não tivesse se tornado um pesadelo constante de coisas que só acontecem na imaginação de pessoas supersticiosas.
Cheguei em frente ao caixa do bar, ouvindo uma discussão calorosa entre Daniel e o dono do bar. Cheio de razão inexistente o homem dizia que tínhamos que cumprir um ‘contrato’, que por nós nunca tinha sido assinado. E se não trabalhássemos mais um mês de graça, nada feito de ver nossa grana.
“UM MÊS DE GRAÇA?!?”, gritou Daniel quando chegamos perto dele. E ele com um sorriso de sádico sinalizou afirmativamente com a cabeça. Era pegar ou largar.
Tudo bem, éramos ilegais, mas não éramos escravos de ninguém. Aquilo era o cúmulo de todos os cúmulos. Ninguém ia trabalhar de graça pra ninguém. E ninguém era obrigado a passar por aquilo, por piores que fossem nossas condições financeiras.
Não tinha argumento contra o sádico. Sabíamos que ele não prestava, mas não sabíamos que era tanto. Era aquilo, ou então ele ficaria com nossos instrumentos em troca do seu ‘ absurdo prejuízo’.
Não dava pra chamar a polícia, não dava pra processar, nada dava. O que dava era abrir mão de nossos salários. E isso ninguém queria. Faria falta na hora de colocarmos nossas vidas nos eixos.
Foi quando o sádico resolveu dar outra sugestão. Se eu dormisse com ele, ele nos daria o salário e deixaria com que levássemos embora nossas coisas, afinal, toda gringa era prostituta mesmo.
Lex voou no pescoço do sádico, enquanto um dos seguranças me segurou pelo braço e o outro se atracava com Daniel.
Foi arranhão, mordida, soco, tapa, sangue. Nossos instrumentos pra fora e salário voando de nossas mãos.
O que a gente ia fazer pra comer e pagar o aluguel do mês pro Sam, eu não sabia. Pela primeira vez, eu tinha sofrido mais do que na pele o que era o preconceito. E depois de passar por isso, eu começava a redefinir mais as idéias que tinha em mente.
Meus braços tinham marcas roxas. Daniel tinha um nariz sangrando e um corte na testa. Lex um olho roxo e uns hematomas se espalhando pelo corpo.
Sentados na calçada, não tinham palavras. Não tinha nada. Eu segurava o violão elétrico, Daniel sua guitarra e Lex o que tinha sobrado da sua. Foi quando eu olhei pra cara de Lex e vi sua expressão de ‘estamos duros’. Comecei a rir.
Não era um riso normal. Era um riso contido de raiva, desespero, trauma, esquizofrenia. Sentada no meio fio, com os braços caídos sobre as pernas, meu corpo doía todo enquanto meus músculos se mexiam por vontade própria. Daniel deitado na calçada, a dois quarteirões do bar, ria de braços abertos, olhando pro céu. Lex balançava sua cabeça e ria.
A desgraça era feita. Riamos de nossas infelicidades, que até ali, não eram poucas. Riamos de nossa condição ridícula de acreditar nas pessoas. Ríamos de nós mesmos, porque aquela cena era a mais bizarra de todas.
Daniel passava suas mãos em minhas costas, e dizia ‘que linda noite de lua cheia’, enquanto o sol começava a despontar.

terça-feira, agosto 18, 2009

Out of Downtown

Era aquilo, e sabíamos fazer de melhor. Tínhamos que sair de downtown urgente. Ninguém mais agüentava aquele apartamento péssimo que morávamos, nem nossos amigos insetos.
Se conseguíssemos o emprego, teríamos mais condições de arrumarmos pelo menos uma coisa melhor, e com um aquecedor que funcionasse.
Sam era o nome do dono do bar. Era baixinho, gordo e simpático. Suas bochechas vermelhas e os olhos claros nos davam uma impressão de confiança extrema. O sorriso estava sempre no rosto, mas lá no fundo, víamos uma ponta de vida sofrida, perda, luta e muito orgulho de ter chegado vivo, até a idade que seus fartos cabelos brancos exibiam.
A conversa entre nós fluía bem. Parecíamos ter nos conhecido há anos, mesmo sabendo que estávamos ali só por algumas horas. Ele era imigrante, mas tinha chegado a Seattle quando as coisas por aqui ainda eram diferentes.
Ele já não era ilegal como nós. Tinha conseguido tudo com seu esforço. E não tinha passado por discriminação como nós, por ter a mesma língua da região. Apesar do sotaque que já estava sendo perdido, irlandeses falavam a língua nativa. Era um ponto positivo.
Sentado ao fundo do balcão, havia um garoto de cabelos lisos, bem pretos e olhos bem claros. Um pouco mais verdes que os do pai. Tinha traços mais finos e menos marcantes. Se os cabelos fossem compridos, poderíamos o confundir com uma garota. A pele era branca como pancake.
Ele olhava atentamente a tudo através da franja que insistentemente caia em seus olhos. Tinha um ar tímido e se via que não passava de um garoto de 16 anos pelas suas fartas espinhas no rosto.
Sam nos apresentou como seu filho. Disse que mesmo sabendo do risco que corria, John, esse era seu nome, ajudava nas coisas corriqueiras do bar. Não tinha ninguém que tomasse conta então, as tarefas domésticas eram divididas entre os dois.
John olhava fixamente para as coisas, e levantava as sobrancelhas quando algo diferente o encantava. Não sorria. Mas a expressão de seus olhos dizia o porquê não deveria sorrir. E não me engano muito quando descubro o sentido das pessoas.
Fomos convidados a trabalhar no bar para tocar. Eu o perguntei se precisava de uma garçonete. Poderia ajudar com outras coisas, como limpar, ficar no bar, essas coisas. Sam me ofereceu primeiramente um emprego de garçonete. Disse que estava com uma garota que ia ter licença maternidade e não ia mais trabalhar, já que o seu novo marido preferia que ela parasse de trabalhar. Fiquei com a vaga da garota. Começaríamos todos na próxima semana. De quebra, Sam nos ofereceu um apartamento no prédio onde tinha o bar, pra ficarmos mais próximos pra que pudéssemos ensaiar no bar mesmo.
Voltamos todos doidos de alegria pra casa. Já na próxima semana começaríamos a trabalhar. E se conseguíssemos, em breve estaríamos saindo daquele lugar. Já não era sem tempo.
Daniel me abraçava e me beijava muito naquele dia. Não sei se pela primeira vez, era um esforço garantido, alguém que não tinha tido preconceito algum conosco. Era uma satisfação. Uma graça. E Daniel estava mais do que acreditando em tudo. Falava muito, gesticulava muito, sorria um sorriso diferente.
Uma semana nos preparando, pensando, como daríamos um fim na exploração que estávamos vivendo. Trabalhando naquele bar perto de casa, ganhávamos pouco, e mal dava pra fazer algo diferente.
A lanchonete ainda dava pra manter, mas trabalhando pro Sam, do outro lado da cidade, a gente não ia conseguir conciliar os horários, principalmente nos dias da apresentação. Já naquela mesma semana, eu tinha procurando alguma outra coisa ali por perto, pra poder ficar com um emprego a noite, e outro de dia.
Meu objetivo era o curso de produção, eu não podia estragar tudo. Precisava daquele sacrifício para manter as coisas no lugar. Eu já sabia que não ia ser fácil a vida fora de casa, e que sofreria do cansaço e de não ter mais as coisas na mão. Eu não me importava. Por um instante eu acreditava que a estúpida independência valia a pena.
E na idéia de que tempos melhores viriam, entrei de cabeça em um compromisso com minhas responsabilidades. Juntava cada centavo que podia em prol dos meus planos. Fiquei obcecada por trabalhar. Esqueci de tudo, só via hora do emprego e a idéia de começar o curso em breve.
Mas ainda tinha que sair de onde estava e receber pelo serviço do mês. Deitada na cama, enquanto Daniel tirava minha roupa como num frenesi tentador, eu fechava os olhos e pensava que nada mais a partir dali poderia me abalar.

quinta-feira, junho 11, 2009

Daniel

Daniel apareceu duas semanas após estarmos em Seattle. Nada me foi mais surpreso, porque eu poderia esperar qualquer coisa em minha nova vida, mas não esperava um fantasma do passado.

Daniel era alto. Tinha os cabelos castanhos claro e os olhos castanhos. Mãos firmes. Boca vermelha, carnuda. Falava grosso e tinha ar de quem não se importava muito com o que os outros falavam.

Lembro-me da primeira vez que vi Daniel. Estava encostado na parede do colégio, com a cabeça erguida, mas os olhos baixos. Tínhamos uma amiga em comum. Ela me falava muito dele, e de como eu ia gostar de sua personalidade logo de cara.

Daniel não tinha o ar de menino dos outros caras do colégio que eu conhecia. Parecia experiente, esperto e sabia como falar, diferentemente dos outros. Fui subitamente arrebatada de uma sensação de perigo quando o vi, mas me entreguei as suas conquistas.

Não foi nem a primeira, nem na segunda e nem a terceira vez que estivemos juntos que nos beijamos. Ainda lembro como se fosse hoje. Ele tocou a campainha da minha casa, me procurando, com lágrimas nos olhos. Abraçou-me insistentemente e de repente me beijou, sem que mesmo esperasse.

Ficamos por meses a fio, mas nunca estivemos juntos de verdade. Nunca foi um compromisso completo.

Daniel tinha um grande poder de persuasão. Era inteligente, astuto e sabia como fazia para comover as pessoas que estavam ao seu lado. Tinha um sorriso inconfundível e era só ele pedir para que qualquer um concordasse. Era interessante, atraente e fazia pose de carente, conquistador.

E quando foi a Seattle, disse a mim que fez o diabo para chegar ali, que ele não poderia mais perder as oportunidades que a vida lhe oferecia, e sim aproveitar ao máximo tudo aquilo que o destino tinha lhe dado.

E foi aí que ele percebeu que eu era uma oportunidade, e que ele não podia deixar para trás. Correu atrás de todas as pessoas que ele conhecia para poder me encontrar e saber exatamente onde eu estava.

Resolvemos então voltarmos nosso relacionamento. Arrumamos um emprego para ele na mesma lanchonete em que eu e o Alex trabalhávamos. E de quebra, resolvemos alugar um apartamento.

Uma das piores coisas que fizemos. O lugar era péssimo. Cheio de baratas e ratos. A gente não via água quente quase nunca. E o aquecedor era péssimo. Como tem mais dias frios que dias quentes, então, foi horrível.

Eu e Daniel dividíamos a cama enquanto o Alex dormia num colchão no chão. O lugar era basicamente um quarto e uma cozinha, bem estilo americano. As paredes eram daquele branco meio sujo e o chão era de madeira. O banheiro era pequeno, nojento e nada limpava aqueles azulejos.

Nossa cozinha tinha um fogão e uma geladeira. Os pratos eram contados, assim como os talheres e os copos. Tudo lá dentro era de segunda mão. Não tinha nada novo.
As baratas eram habitantes assíduas da casa. Nessa época perdi o total medo que tinha por elas. Os meninos chegavam a apelidá-las, e eu vivia com um chinelo à mão para exterminar qualquer uma que viesse ao meu caminho. De vez em quando apareciam alguns camundongos também.

O aluguel era pago em dia, mas como éramos estrangeiros, o proprietário fazia descaso às nossas reclamações e nada era consertado como pedíamos. Aliás, de todo o tempo em que ficamos lá, nada foi consertado, a não ser por nós mesmos.
Dava desânimo de morar ali, mas era o que nosso bolso podia pagar. A rotina de nossas vidas era tão grande que não dava tempo para brigas e discussões. Dávamos-nos bem na medida do possível, e meu relacionamento com Daniel era tranqüilo, morno, sem muitas emoções.

Até hoje me pergunto se, algum dia, senti algum tipo de paixão por ele. Nunca obtive essa resposta, por vários motivos.

Depois de algum tempo juntos, percebi que não era encanto que ele sentia por mim, mas sim só um esteio para que ele não se sentisse sozinho. Eu fingia que não sabia de suas traições e ele fingia que mentia muito bem para mim.

Mesmo assim, Daniel foi o primeiro homem a me tocar. O primeiro homem que foi para cama comigo. E eu sempre achei que ia ser especial, mágico e tudo o que uma garota adolescente imagina que vai ser.

Não teve velas, nem perfume, nem música ambiente muito menos um eu te amo no final. Teve só desejo, atração. Não passava disso. Eu me sentia muito atraída por ele, mas não sentia nada. Não tinha ciúmes, não havia compromisso, respeito, dedicação. Era puro contato físico, e não era dos melhores.

Na época, importava muito mais os meus planos de fazer o curso de produção musical, o trabalho e a idéia de voltar a estudar, que as outras coisas eram só fatos.
Daniel era como um ator coadjuvante em minha vida. E eu também era na dele. Éramos jovens e ele muito mais inconseqüente do que eu.

Passávamos muito pouco tempo junto, e quando estávamos juntos ou assistíamos TV, ou estávamos ensaiando, tocando músicas. Tínhamos montado uma banda ele, eu, Alex e mais dois caras que trabalhavam com a gente na lanchonete.

Arrumamos um lugar pra trabalhar a noite. Pagava bem e podíamos de vez em quando, tocar as nossas covers. Era mais um lugar de exploração, mas até aí, quem reclamou?
Já fazia alguns meses que Seattle tinha ilegalmente nos acolhido. Alex quase não ficava junto conosco, com medo de atrapalhar nossa tão feliz relação, e saía quase todas as sextas e sábados, sozinho.

Numa dessas saídas, foi parar em um bar do outro lado da cidade. E quando a bebida começa a virar confessionário, ele contou tudo ao senhor que estava o servindo. Todas as coisas que estávamos passando desde que chegamos aqui. Alex só faltou dar o número de nossas contas bancária, que não tínhamos. Óbvio.

Como uma estratégia divina do destino, o tal senhor era dono do bar. E se comoveu com a situação do moço. Fomos então, chamados para fazer uma apresentação a ele. Claro que foi tudo bem, e de cara o dono gostou da gente.

Daniel sorria a mim, como nunca tinha sorrido antes. Pela primeira vez, vi uma satisfação em seus olhos. E claro, só fui ver essa satisfação novamente meses depois.

sábado, janeiro 10, 2009

Space Needle

Chegamos a Seattle na primavera, eu e o Alex. A cidade tinha um ritmo só dela. As coisas pareciam muito diferentes e distantes de minha realidade. Tudo era novo, perfeito e lindo.
Passamos duas semanas procurando emprego e visitando a cidade. Visitamos o The Seattle Center Fountain, o Parque Nacional, o Mercado de Peixe.
Lembro que no Warren G. Magnuson Park, mais especificamente no National Oceanic and Atmospheric Administration, estava um dia lindíssimo. Lá existem umas esculturas chamadas “A SOUND GARDEN”. E era de onde a banda Soundgarden tinha tirado o nome que os batizariam por alguns anos. As esculturas têm uma forma estranha, são de metal, e onde bate o vento, elas fazem um som. Um barulho meio indiscritível.
Claro, eu tinha que visitar o Space Needle. O monumento de toda a ostentação decadente de uma cidade quase portuária, mas com cheirinho do mercado de peixe. Fiz a minha tão sonhada viagem de trem. Foi maravilhoso. As fotos saíram um pouco ruins, porque, enfim, o dia tava nublado.
Sentei no trem às dez da manhã. Era tudo diferente. Eu podia ver a garoa caindo no vidro, fazendo aquelas gotículas de água quase imperceptíveis. A cidade estava toda nublada e eu era só curiosidade. Nada mais fazia sentido a não ser aquele momento.
As cadeiras do trem eram azuis, aveludadas, e toda cheia de nove horas. Meu coração pulava insistentemente em meu peito. Era a primeira vez que me via sozinha e cheia de responsabilidades em minhas mãos.
A responsabilidade de tocar minha vida, de dar um rumo nela. De me preocupar com contas a pagar, com meu futuro. Sem ninguém pra pensar por mim, nem pra agir por mim, nem pra dizer o que eu deveria dizer.
Enquanto o trem se movia eu pensava se poderia dar conta de tudo. Se eu não voltaria à casa dos meus pais arrependida, perdida, machucada. Apertava os olhos numa tentativa de esquecer esses pensamentos. Eu mal sabia o que estaria por vir.
Cheguei ao Space Needle e enquanto o elevador subia, eu olhava a cidade ficar pequenininha lá de cima e pensava que tinha todas as oportunidades em minhas mãos, era só pensar e saber usá-las.
Aquilo era lindo, mesmo nublado. Tinha um ar diferente, um gosto diferente. Gastei parte de minhas economias para poder comer no restaurante lá em cima, mas tudo valia a pena. Até o Alex fazendo pose e quase caindo lá de cima para tirar uma foto.
Toda vez que olho pela janela e vejo o monumento, lembro daquele dia. Do friozinho na barriga, da boa melancolia. Da saudade de um tempo em que eu ainda era inocente. Um tempo em que eu acreditava que a vida era feita de ideais e não de fatos.
O episódio do Parque Nacional (um deles, porque têm tantos), foi o mais engraçado. Estava sol, e estávamos fazendo uma horinha sentados na grama. O Alex resolveu subir numa árvore super bonita que tinha perto da gente. Ficou todo empolgado pra eu tirar uma foto, pois então, subiu na árvore e fez cara de feliz.
Mas feliz fui eu que quase rolei no chão de tanto rir. Ele sentou no galho, e de repente começou a fazer várias caretas. E de caretas ele passou a berros e quase quebrou o galho de tanto pular. Nisso, ele vira e fala "tira logo essa foto, eu estou sendo comido por formigas!!!"
O mais engraçado foi que ele não saiu do galho, enquanto eu não tirei a foto. E pior, saiu nela, com cara de que ele estava feliz, por estar sentado em uma árvore tão inofensiva.
Visitamos as montanhas e andamos que nem uns condenados para ficarmos em uma cabana bem simples. Washington (estado onde fica Seattle, a sua capital), tem umas montanhas lindas. É frio, mas é gratificante. É um silêncio quase sepulcral. Uma paz que não presenciei mais, depois desse episódio. De um lado e do outro, você só vê montanhas e floresta. Enquanto caminha e o ar gelado bate no rosto. Nunca tinha visto nada igual.
Depois fomos conhecer o Píer e o Mercado de Peixe, que também são atrações da cidade.
Aqui existem ‘coffee houses’ em todos os lugares. Eles recebem grãos do Brasil e da Colômbia, mas o café não é como aí em baixo. É estranho e se consome uma quantidade de café absurdamente maior que um simples cafezinho. Parece que se toma mais café do que água.
E o frio? É muito frio. Frio a maior parte do tempo. Para quem estava acostumado com dias ensolarados e muito calor, se acostumar com esse tempo foi um tormento. Em casa tudo quentinho (quero dizer, depois que mudamos de downtown) e fora, um frio dolorido. Dá vontade de dormir o dia todo.
Mas eu falava das atrações turísticas. Das atrações diurnas, passamos às atrações noturnas. Visitamos cada buraco que nosso dinheiro suportava. A vida noturna é bem agitada. Lugares que comportam todos os tipos de pessoas. Alguns muito bons outros muito ruins. O único inconveniente aqui é que os bares fecham muito cedo. Mas tudo vale a pena.
Nesse ponto estávamos eu e o Alex, procurando emprego e nos hospedando em um hotelzinho não lá muito bom, downtown.
Eu digo downtown, porque aqui quer dizer centro da cidade. Tudo fora de downtown é periferia. E por incrível que pareça morar na periferia é melhor. Mas como não tínhamos dinheiro, estávamos em downtown. Pelo menos o chuveiro era quente e o quarto era limpo.
Mesmo com todas as nossas saídas, continuávamos a procurar um emprego. Até que achamos uma lanchonete perto do hotel em que nos contratou para trabalharmos lavando pratos e servindo comida. Se ganha mais dinheiro fazendo isso, do que trabalhando muito aí em baixo. Mas o custo de vida aqui é muito alto. Tudo é muito caro.
Nesse meio tempo em que começamos a nos estabilizar, eis que recebo uma bela “surpresa”. Num belo dia chuvoso de Seattle, me aparece Daniel.